EXPOSIÇÃO "ÁFRICA: OLHARES CURIOSOS", Hilton Silva

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Mês de homenagens aos heróis da Revolta dos Búzios

Agosto é um mês especial para o movimento negro brasileiro. Foi o mês em que aconteceu uma das maiores manifestações populares comandadas por negros, mulatos e mestiços, que lutavam por democracia, igualdade e melhores condições de vida para todos os brasileiros. Essa foi a Revolta dos Búzios, ocorrida entre os dias 12 e 25 de agosto de 1798.
Para relembrar os ideais de igualdade, liberdade e democracia reivindicados na Revolta, eventos culturais e acadêmicos ao longo de todo o mês de agosto aconteceram em Salvador, cidade que serviu de cenário à luta. Conferências, exposições, debates e apresentações musicais marcaram as celebrações que homenagearam, especialmente, os herois da maior revolução política e social da história do Brasil.
Lucas Dantas de Amorim Torres, Luís Gonzaga das Virgens e Veiga, Manoel Faustino Santos Lira e João de Deus do Nascimento são os nomes daqueles que abriram o caminho para a construção de um país com maior igualdade de oportunidades. O presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), Eloi Ferreira de Araujo, reconhece a importância de homenagear a memória dos precursores na luta pela liberdade.
“O reconhecimento desses heróis na construção de um país independente e soberano é de fato um importante legado que se deixa à nação. O reconhecimento dos combatentes na Revolta de Búzios como heróis do povo brasileiro merece todo destaque. Embora passados tanto tempo ainda temos muito o que comemorar pela contribuição desses homens imprescindíveis para a formação da identidade nacional. Viva João de Deus do Nascimento, Lucas Dantas de Amorim Torres, Manuel Faustino Santos Lira e Luís Gonzaga das Virgens e Veiga”, afirmou o presidente.
Importância histórica – Segundo João Jorge, presidente do Olodum, a Revolta dos Búzios é o único movimento da comunidade negra e mestiça que ainda estremece as elites do país, pois foi uma iniciativa popular que exigia direitos humanos, igualdade racial e de gênero ainda em 1798. “Todas as políticas públicas e sugestões do movimento negro brasileiro hoje são baseados nas propostas dos líderes da Revolta. Eles foram os autores da promessa de igualdade, que ainda hoje está em curso. E que vai acontecer”, disse.
Segundo o historiador Ubiratan Castro de Araujo, diretor da Fundação Pedro Calmon da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia e ex-presidente da FCP, os quatro mártires negros representam os milhares de homens e mulheres pobres e escravizados que lutaram pela libertação da Bahia. “Mesmo condenados e enforcados em praça pública, seus ideais continuaram vivos e ressurgiram em 1822 nas lutas pela independência do Brasil”, ressalta.
Herois do Brasil – Os nomes dos líderes da Revolta dos Búzios foram inscritos no Livro de Aço dos Heróis Nacionais em 4 de março de 2011, mais de 200 anos após suas mortes, depois da sanção da Lei 12.391 pela presidenta Dilma Rousseff. Esses heróis são símbolos do movimento que influenciou fortemente os ideais libertários dos brasileiros em uma época em que os direitos contrastavam com a precária condição de vida do povo negro.
O grande marco do movimento foi a articulação de grupos mais pobres da população baiana para defender propostas que realmente os representassem. A conspiração surgiu das discussões promovidas pela Academia dos Renascidos e foi apoiada pelas mais diversas classes sociais, tornando-se um dos primeiros movimentos populares da história do país. O movimento tinha por princípios a emancipação da colônia e a abolição da escravidão na busca por uma república democrática. O sonho, porém, foi realizado apenas 147 anos depois.
Saiba quem são os herois da Revolta dos Búzios:
João de Deus do Nascimento
(1761 – 1799)

Filho de mulata alforriada com português, João de Deus nasceu em Salvador. Inconformado com a situação de miséria da colônia, participou de reuniões secretas, juntamente com estudantes, comerciantes, intelectuais, soldados e artesãos. Ao tomar conhecimento da Revolução Francesa, passou a discutir os ideais liberais e as possibilidades de sua aplicação no Brasil.
Lucas Dantas de Amorim Torres
(1775 – 1799)

Pardo, escravo liberto, soldado e marceneiro, Lucas Dantas foi o responsável pela reunião de representantes das mais diversas classes sociais para debater sobre a liberdade e a independência do povo baiano.
Manuel Faustino Santos Lira
(1781 – 1799)

Filho de escrava liberta e pai desconhecido, Manuel Lira também nasceu em Salvador. Foi um dos primeiros suspeitos pela autoria de panfletos anônimos que conclamavam a população a defender a “República Bahiense”.
Luís Gonzaga das Virgens e Veiga
(1763 – 1799)

Soldado, negro, Luís Gonzaga das Virgens e Veiga era o mais letrado entre os líderes da revolta. Descendia de portugueses e crioulos. Sentiu e expressou o sentimento de revolta contra o preconceito de cor dominante no seu tempo. Foi autor do mais polêmico manifesto feito durante o movimento.

Por Joceline Gomes

Nenhum comentário:

Postar um comentário