EXPOSIÇÃO "ÁFRICA: OLHARES CURIOSOS", Hilton Silva

quarta-feira, 27 de julho de 2016

A mulher negra é a maior vítima de violência no Brasil

* Por Ana Carla Franco e Júlia Gabriela Monteiro

Segundo dados do último mapa da violência, elaborado em 2015 pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, o homicídio de mulheres negras aumentou 54% em 10 anos, enquanto que o de brancas reduziu 10% no mesmo período, além de evidenciar que a mulher negra também é a maior vítima de estupro. Mas por que as negras são as maiores vítimas?

Assim como os demais países latino-americanos, o Brasil ainda sofre com o racismo estrutural e estruturante em nossa sociedade, fruto de uma cultura escravocrata e colonialista. A população negra não recebeu nenhum tipo de atenção ou política de integração com o fim da escravidão, sendo jogados à margem da sociedade. Para as mulheres negras a situação é pior, pois além de serem vítimas de racismo, sofrem com a violência sexista, sendo utilizadas como objeto sexual por séculos, formando uma cultura que se arrasta até os dias atuais. Em resumo, a camada social mais pobre e marginalizada é a que mais sofre com a violência.

Em face desta situação, uma forte articulação de mulheres nas áreas de comunicação, cultura, acadêmica e afins na América Latina e Caribe organizou o 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas em 1992 na República Dominicana, que resultou na criação de uma Rede de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas e a celebração do dia 25 de Julho como Dia da Mulher Afro-latino-americana e Caribenha, internacionalizando assim o debate do feminismo negro, que surgiu a partir da década de 70, impondo a necessidade de interseccionalidade de gênero, raça, classe, etnia, orientação sexual e religiosidade, significando assim uma ruptura com um feminismo que não nos contempla, que historicamente foi hegemonizado por mulheres brancas e de classe alta.

Neste dia, pretendemos dar visibilidade à vulnerabilidade da mulher negra em nossa sociedade marcada pelo racismo patriarcal heteronormativo, que vitimiza de forma desproporcional a população de mulheres negras e pobres, além de lutar para o fomento de políticas que venham a atender esta camada e possamos diminuir os índices de violência apontados. As mulheres negras seguem em marcha neste dia pois precisamos dialogar sobre esta problemática.

O protagonismo das mulheres negras no movimento feminista é outro ponto que temos que dialogar. Cadê elas no movimento? E quando estão, quais os papeis delegados às companheiras das quebradas, das periferias, as nossas irmãs negras? Precisamos das vozes das negras, das suas pautas, que são violadas cotidianamente nesse sistema. Até quando, irmã branca, tu vais querer monopolizar a fala? Não é pra diluir o movimento, mas temos que ser diversas em nossas vozes, em nossas lutas, em nossos olhares. Todas são bem vindas pra chegar e construir o movimento feminista, precisamos muito unir forças, mas jamais monopolizar as pautas. Somos muitas e diversas! Não podemos esquecer que temos que passar o bastão do movimento para todas, e nesta luta seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!

*Ana Carla Franco é mulher negra, militante da Marcha Mundial das Mulheres-PA, servidora pública e estudante de Ciências Sociais na UFPA.

*Júlia Gabriela Monteiro é mulher negra, militante da Marcha Mundial das Mulheres-PA, Mestra em Ciências da Religião e professora em Manaus.

terça-feira, 26 de julho de 2016

Mulheres negras marcham em Belém

Pronunciamento da professora Zélia Amador
O dia 25 de julho celebra o Dia da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha. A data foi criada em 25 de julho de 1992, durante o primeiro Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, em Santo Domingos, República Dominicana, como marco internacional da luta e da resistência da mulher negra.
No Brasil, a data também é nacional, foi instituída por uma Lei de 2014, sancionada pela presidenta Dilma Rousseff, como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.
Em Belém, após intensa mobilização pelas redes sociais organizada pelo Cedenpa - Centro de Estudo, mulheres de diversos movimentos sociais protagonizaram a primeira Marcha das Mulheres Negras, em alusão ao 25 de julho, garantindo grande visibilidade para suas reivindicações e marcando a data na agenda de lutas.
A passeata saiu da Escadinha do Ver-o-Peso rumo à Praça da República, subindo pela Av. Presidente Vargas. Na Praça, o Cedenpa mantém um quiosque denominado Quilombo da República, que é ponto de referência de produção e compartilhamento de cultura negra.
Durante todo o trajeto, mulheres se revezaram no microfone denunciando o machismo e as diferentes formas violência contra as mulheres que se reproduzem diariamente na sociedade, além de entoarem músicas e palavras de ordem sobre seu empoderamento. A doutora Zélia Amador de Deus em seu pronunciamento afirmou que "a luta e resistência tem sido a marca das mulheres negras latino-americanas e caribenhas", considerando que diante do contexto atual a "resistência" tem que ser redobrada para garantir que as mulheres continuem "em marcha sempre".

Veja também o artigo "A mulher negra é a maior vítima de violência no Brasil" 

Texto e foto: Tony Vilhena
Com informações da EBC Radioagência Nacional

quarta-feira, 13 de julho de 2016

COPIR participa de audiência pública em Abacatal



Neste 12 de julho, na Comunidade Remanescente de Quilombo de Abacatal, área rural do município de Ananindeua, na confluência do Bairro do Aurá, ocorreu uma Audiência Pública para tratar de temas diversos, visando a melhoria das condições de vida daquela população.

A mobilização para o evento foi responsabilidade da Comissão de Defesa da Igualdade Racial e Direitos dos Quilombolas da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Pará (OAB/PA), presidida pelo Dr. Jorge Farias. A audiência contou com forte participação dos moradores da comunidade, além de representações de partidos políticos, diversas autoridades governamentais e lideranças de movimentos sociais.

A pauta principal era a segurança pública. Pois há uma tensão gerada por ameaças e tentativa de homicídio por pessoas supostamente ligadas com a criminalidade aos moradores de Abacatal. As Polícias Civil e Militar têm acompanhado o caso e assistido as famílias.

Nilma Bentes, do Centro de Estudos e Defesa do Negro no Pará (Cedenpa), que acompanha a luta da Comunidade de Abacatal desde a década de 1980, contatou que o cenário de dificuldades pouco mudou, sobretudo na questão de trafegabilidade da estrada que liga a comunidade ao centro urbano da cidade de Ananindeua. O tema relativo a estrada foi muito debatido, gerando encaminhamentos junto aos representantes da prefeitura. Pois, como denunciou o senhor Alonso dos Santos e Silva, uma das lideranças quilombolas, "as péssimas condições das estradas prejudicam o escoamento da produção da agricultura familiar, o acesso da segurança e saúde pública e o transporte escolar". Outro problema muito citado foi o da implantação próxima ao quilombo de uma empresa que deveria fazer o tratamento de resíduos sólidos, mas que tem causado sérios problemas ambientais. 

A Coordenadoria de Educação para a Promoção da Igualdade Racial (COPIR/SEDUC) esteve representada pela professora Hilda Ribeiro e pelos professores Amilton Gonçalves Sá Barretto e Tony Vilhena. Em seu pronunciamento, Amilton Barretto fez menção à notícia de falecimento, nesta manhã, da intelectual e ativista negra Luiza Bairros, doutora em Sociologia (Universidade de Michigan – USA), articulista do Movimento Negro Unificado – MNU e Ministra da Secretaria de Políticas Públicas da Igualdade Racial do Brasil, de 2011 a 2014. Em seguida, Barretto apresentou o Projeto Educação, Etnicidade e Desenvolvimento: Fortalecimento de Negros e Negras Quilombolas na Educação Básica, que está voltado para o fortalecimento educacional de alunos e alunas quilombolas e implementação da Resolução nº 8/2012, do Conselho Nacional de Educação, que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola na Educação Básica.

O Dr. Jorge Farias reiterou que os encaminhamentos da Audiência serão executados conforme as demandas, sugestões e poder de reivindicação da Comunidade. Nesta perspectiva, dona Santana exclamou no encerramento que "os quilombolas não são coitadinhos pedindo favor aos governos, mas sim, cidadãos e cidadãs exigindo seus direitos, já que cumprem com todos os seus deveres". 

Texto e foto: Tony Vilhena

terça-feira, 12 de julho de 2016

Pesar por Luiza Bairros

É com grande pesar que informamos que Luiza Helena Bairros faleceu esta manhã em Porto Alegre vitima de câncer no pulmão contra o qual lutava há meses.
Natural de Porto Alegre, era graduada em Administração Pública e de Empresas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul além de possuir títulos de Mestre em Ciências Sociais (UFBA) e de Doutora em Sociologia (Universidade de Michigan – USA). Morava em Salvador desde 1979, onde atuou em diversos movimentos sociais, com destaque para o Movimento Negro Unificado – MNU.  Trabalhou em programas das Nações Unidas – ONU contra o racismo em 2001 e em 2005. Foi titular da Secretaria de Promoção da Igualdade Social da Bahia e Ministra-chefe da Secretaria de Políticas Públicas da Igualdade Racial do Brasil, de 2011 a 2014. Trabalhava e militava politicamente nas áreas de raça e gênero.
Para os movimentos sociais sobretudo os de mulheres e negros Luiza Bairros deixa reflexões fundamentais para compreensão e acão politica pela igualdade de gênero e raça.
Para a administração publica Luiza Bairros deixa ao Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Sinapir) uma ferramenta que segundo ela inaugura a possibilidade de um novo ciclo das políticas de promoção da igualdade racial no Brasil visando o fortalecimento e a institucionalização de órgãos, conselhos, ouvidorias permanentes e fóruns voltados para a temática nos estados e municípios.
Luiza Bairros considerava que o Sinapir exige um esforço especial de gestores e gestoras no sentido da institucionalização dos órgãos de Promoção da Igualdade Racial (PIR). Segundo ela: “Não existe qualquer possibilidade de uma política pública ser bem-sucedida se o trabalho não for desenvolvido com os entes federados, porque é dessa maneira que se consegue que a política chegue às pessoas. Os resultados desse esforço vão depender também do empenho de governadores e prefeitos na compreensão da política de PIR.”
Para saber mais sobre Luiza Bairros click aqui 
O sepultamento de Luiza Bairros será na próxima 5a. feira  dia 14 de julho as 15 horas na capela 9 do Cemitério João XXIII situado na Avenida Natal, 60 – Medianeira, Porto Alegre. O velório tem inicio hoje às 20 horas no mesmo local.

Fonte: Geledés