EXPOSIÇÃO "ÁFRICA: OLHARES CURIOSOS", Hilton Silva

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Graduandos/as de Ciências da Religião da UEPA realizam Trilha Afro-Amazônica no Museu

 
A Museu Paraense Emílio Goeldi oferta em seu Parque Zoobotânico uma trilha especial que tem foco na preservação e promoção das tradições das religiões de matriz africana, pois essas saberes e práticas colaboram para a sustentabilidade ambiental e vivência comunitária. É a Trilha Afro-Amazônica, que foi idealizada pela bolsista de educação Tainah Coutinho Jorge.
A Coordenadoria de Educação para a Promoção da Igualdade Racial - COPIR - fechou parceria com o Serviço de Educação do Museu Goeldi para levar estudantes de escolas públicas estaduais para realizarem a trilha no intuito de somar os esforços pedagógicos para a  implementação da Lei 10.639/2003 que determina a obrigatoriedade de ensino da história e cultura africana e afro-brasileira ma Educação Básica.
Mas nesse dia 31 de agosto houve uma parceria inusitada entre COPIR, Museu e Universidade do Estado do Pará - UEPA - que possibilitou a visita de uma turma de terceiro ano do curso de Licenciatura Plena em Ciências da Religião. Os/as graduando/as assistiram um documentário produzido pelo Museu que mostra sacerdotes e sacerdotisas de religiões de matriz africana apresentando vários componentes da flora e fauna amazônica que são símbolos ou sinais da presença das suas divindades e de seus valores civilizatórios. O vídeo está disponível na internet (clique aqui). Posteriormente, caminharam e fizeram contato com os pontos referenciais que compõem a trilha, somando outras informações e levantando questões para aprofundamento dos temas abordados.
Para a professora Rosilene Quaresma, que monitorava a turma da UEPA, "a trilha é uma oportunidade de pensar na prática docente para além da sala de aula". A professora Lúcia Santana, do Serviço de Educação do Museu, no final de percurso da trilha, falou da satisfação de acolher estudantes de uma universidade pública, afirmando que "apesar da circunstância de crise que vive o país, o Museu mantém o seu compromisso com a sociedade de dispor de conhecimento e ciência".
No final, houve propostas de se formalizar a parceria da UEPA, incluindo a possibilidade de seus graduando possam concorrer aos estágios remunerados ofertados pelo Museu.


Texto e fotos: Marcos Pinheiro e Tony Vilhena

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Me gritaram negra, poema de Victoria Santa Cruz

Durante o Seminário de Elaboração de Conteúdos para Etnicidade e a Diversidade Étnico-racial, realizado na Escola Estadual Hildeberto Reis, na cidade de Aurora do Pará, nos dias 24 e 25 de agosto de 2017, um grupo de trabalho composto por professoras e professores das escolas públicas (foto) apresentou o poema abaixo, proporcionando uma reflexão profunda e emotiva no plenário.
 

Tinha sete anos apenas,
apenas sete anos,
Que sete anos!
Não chegava nem a cinco!
De repente umas vozes na rua
me gritaram Negra!
Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra!
“Por acaso sou negra?” – me disse
SIM!
“Que coisa é ser negra?”
Negra!
E eu não sabia a triste verdade que aquilo escondia.
Negra!
E me senti negra,
Negra!
Como eles diziam
Negra!
E retrocedi
Negra!
Como eles queriam
Negra!
E odiei meus cabelos e meus lábios grossos
e mirei apenada minha carne tostada
E retrocedi
Negra!
E retrocedi . . .
Negra! Negra! Negra! Negra!
Negra! Negra! Neeegra!
Negra! Negra! Negra! Negra!
Negra! Negra! Negra! Negra!
E passava o tempo,
e sempre amargurada
Continuava levando nas minhas costas
minha pesada carga
E como pesava!…
Alisei o cabelo,
Passei pó na cara,
e entre minhas entranhas sempre ressoava a mesma palavra
Negra! Negra! Negra! Negra!
Negra! Negra! Neeegra!
Até que um dia que retrocedia , retrocedia e que ia cair
Negra! Negra! Negra! Negra!
Negra! Negra! Negra! Negra!
Negra! Negra! Negra! Negra!
Negra! Negra! Negra!
E daí?
E daí?
Negra!
Sim
Negra!
Sou
Negra!
Negra
Negra!
Negra sou
Negra!
Sim
Negra!
Sou
Negra!
Negra
Negra!
Negra sou
De hoje em diante não quero
alisar meu cabelo
Não quero
E vou rir daqueles,
que por evitar – segundo eles –
que por evitar-nos algum disabor
Chamam aos negros de gente de cor
E de que cor!
NEGRA
E como soa lindo!
NEGRO
E que ritmo tem!
Negro Negro Negro Negro
Negro Negro Negro Negro
Negro Negro Negro Negro
Negro Negro Negro
Afinal
Afinal compreendi
AFINAL
Já não retrocedo
AFINAL
E avanço segura
AFINAL
Avanço e espero
AFINAL
E bendigo aos céus porque quis Deus
que negro azeviche fosse minha cor
E já compreendi
AFINAL
Já tenho a chave!
NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO
NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO
NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO
NEGRO NEGRO
Negra sou!




Victoria Santa Cruz, a força de uma voz afro-peruana
por Débora Armelin



 Victoria deixa sua mensagem de que é preciso sim absorver o que vem de forma negativa, mas transformá-lo em afirmação (Foto: Reprodução)


Tinha sete anos apenas,
apenas sete anos,
Que sete anos!
Não chegava nem a cinco!
De repente umas vozes na rua
me gritaram Negra!
Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra!
“Por acaso sou negra?” – me disse
SIM!
“Que coisa é ser negra?”
Negra!
E eu não sabia a triste verdade que aquilo escondia

(…)


Com uma voz forte e intensa, Victoria Eugenia Santa Cruz Gamarra declama seu poema “Gritaram-me nega” em referencia a experiência de preconceito vivida ainda criança dentro de um grupo de amigos que a expulsaram simplesmente por ser negra.

Foi a partir deste momento que a poeta, coreógrafa, estilista e folclorista afro-peruana passou a refletir sobre a importância do sofrimento, percebendo que certas injustiças poderiam até despertar ódio. Tais experiências fizeram com que ela se reconhecesse como negra, aumentando assim sua autoestima e fazendo com que descobrisse o prazer de viver de uma forma mais equilibrada. Victoria cresceu, consciente de sua negritude.

Nascida em La Vitoria, província de Lima, Peru, no ano de 1922, a arte e a cultura afro-peruana a rodeava. Seu pai, Nicomedes Santa Cruz Aparicio, foi um importante dramaturgo e poeta, e sua mãe, Victoria Gamarra, bailarina de marinera (dança típica do Peru que une raízes culturais indígenas, africanas e espanholas) e filha de um famoso ator.

Aos 36 anos, Victoria cria o grupo Cumanana juntamente com seu irmão mais novo, o poeta, pesquisador e jornalista Nicomedes Santa Cruz Gamarra, um dos primeiros grupos teatrais inteiramente integrado por negros que tinha como intuito difundir as diversas vertentes da cultura afro-peruana. Deste projeto, posteriormente, foram lançados alguns discos contando um pouco da história deste povo e de suas manifestações artísticas.

Com a possibilidade de viajar a Paris para estudar na Universidade de Teatro das Nações e Escola Superior de Estudos Coreográficos, a poeta se destaca como figurinista, trabalhando em obras como “El retablo de Don Cristóbal”, de García Lorca e em “La Rosa de Papel”, de Ramón Del Valle Inclán.

Em seu retorno, funda a “Companhia Teatro e Danças Negras do Peru” fazendo apresentações nos melhores teatros e na televisão, chegando inclusive a representar seu país nos Jogos Olímpicos do México em 1968 com grande êxito e premiada por seu trabalho.

Victoria sempre se mostrou engajada em construir sua identidade negra utilizando o próprio corpo como suporte de resistência e afirmação, assim como também esteve envolvida na busca da valorização das tradições musicais e culturais negras no Peru. Em consequência de seu engajamento, a artista recebe, em 1970, o prêmio de melhor folclorista no primeiro Festival e Seminário Latino-americano de TV, organizado pela Universidade Católica do Chile.

Posteriormente, ela correu o mundo com sua companhia, especialmente nos tempos em que era diretora do Conjunto Nacional de Folclore do Instituto Nacional da Cultura. Victoria chegou a fazer turnês pelos Estados Unidos, El Salvador, França, Bélgica, Suíça, entre outros países.

Victoria Santa Cruz foi uma das poucas mulheres latino-americanas e negras a lecionar na requisitada Universidade Carnegie Mellon, Pensilvânia, nos Estados Unidos, entrando, à principio como professora convidada, mas anos depois alcança o cargo de professora vitalícia.

Em 2014, após muita dedicação ao estudo e à preservação da tradição afro-peruana, a artista veio a falecer aos 91 anos por conta de uma debilidade em sua saúde, mas deixou um legado forte e importantíssimo, sendo considerada como porta-voz de muitas mulheres negras que enfrentam a cada dia a ditadura do ideal de beleza branco.

Victoria deixa sua mensagem de que é preciso sim absorver o que vem de forma negativa, mas transforma-lo em afirmação, fortalecendo assim o ser como sujeito numa maior compreensão de si mesmo. É o renascer, é se esclarecer como negra pertencente a este mundo. Para a poeta, se todas as “diferentes” raças não perceberam que são uma só, jamais descobrirão o que é o homem!
http://www.afreaka.com.br/notas/victoria-santa-cruz-forca-de-uma-voz-afro-peruana/

terça-feira, 29 de agosto de 2017

A 18ª Unidade Regional de Educação, de Mãe do Rio, recebeu seminário sobre diversidade étnico-racial

Nos dias 24 e 25 de agosto, a Secretaria de Estado de Educação do Pará (SEDUC), através da sua Coordenadoria de Educação para a Promoção da Igualdade Racial (COPIR), promoveu o Seminário de Elaboração de Conteúdos para Etnicidade e a Diversidade Étnico-racial, realizado na Escola Estadual Hildeberto Reis, na cidade de Aurora do Pará.

O Seminário foi formulado com o intento de propiciar um encontro entre os(as) profissionais da educação para refletir, discutir, partilhar e construir conhecimentos relativos às questões dos conteúdos formativos para a educação das relações étnico-raciais, destacando as práticas pedagógicas e os componentes curriculares, tendo em vista atividades, posturas, sugestões de abordagens e características que os gestores, técnicos e docentes podem assumir junto ao contexto escolar. 

Para a professora Maria do Socorro Assis Franco, que é da comunidade de São Mateus e leciona na escola municipal Raimunda Mendes, em Aurora do Pará, "a experiência de trabalhar o tema 'educação escolar quilombola' é muito satisfatória pela possibilidade de aquisição de mais conhecimentos sobre nossas origens". 

Já para Ivanês Brito Veras, professora na escola estadual Emilio Pantoja, que atende diretamente alunos/as oriundos/as de comunidades quilombolas e ribeirinhas, "participar de uma formação sobre este assunto é ter um direcionamento para cumprir as exigências da inclusão da diversidade nos currículos, observar o multiculturalismo, com interdisciplinaridade, com professores falando a mesma língua, entusiasmando toda a equipe".

O Seminário lançou uma semente propositiva para a cidade de Aurora do Pará de ideias criativas para a implementação da Lei 10.639/2003, que determina o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira como estratégia de enfrentamento ao racismo. Deixou também um legado propositivo de ideias que já podem ser adotadas por escolas, como o quadro abaixo de inclusão de conteúdos.











Seminário de Elaboração de Conteúdos para Etnicidade e a Diversidade Étnico-racial

Área de conhecimento ou componente curricular: Matemática e Ciências Naturais
Proponentes:
Andre Alves Sobreira
Irene Cecília de Araujo
José Vieira Araújo
Maria Bernadeth Borges Pereira
Romildo Robson Silveira da Silva

Matemática
EIXOS
CONTEÚDOS APLICÁVEIS
METODOLOGIA
Saberes, culturas, valores, datas (calendário), personalidades e memórias das comunidades
Razão
Porcentagem
Estatística
Probabilidade
Matemática Financeira
Trabalhar com leituras que relatem dados como:
· Prisão entre brancos e negros;
· Perspectiva sobre a qualidade de vida;
· Diferenças de acesso á escolaridade;
· Índice de mortalidade infantil;
· Verificação de valores monetários entre as moedas africanas e outras.
Saberes sobre territorialidade
Trigonometria
Geometria Plana
Geometria Espacial
Mostrar as contribuições africanas em fatos como
· Calendários;
· Medidas de terra;
· Pirâmides

Física
EIXOS
CONTEÚDOS APLICÁVEIS
METODOLOGIA
Saberes, culturas, valores, datas (calendário), personalidades e memórias das comunidades
Cinemática

Gravitação Universal
· Velocidades dos africanos nas competições;
· Velocidade do Guepardo;

· Trabalhar sobre a influências dos astros na construção dos calendários e fatos religiosos

Saberes sobre territorialidade
Estática
Dinâmica
Hidrostática


· Trabalhar sobre a construção das Pirâmides, que por sua vez tem as faces triangulares, que exigem a que não aconteça movimentação para continuar sem cair;
· Trabalhar fatos como as irrigações feitas a partir do Rio Nilo.

Biologia
EIXOS
CONTEÚDOS APLICÁVEIS
METODOLOGIA
Saberes, culturas, valores, datas (calendário), personalidades e memórias das comunidades
Citologia





Genética
Trabalhar com fatos pertinentes a:
· Camadas da pele


Trabalhar com fatos pertinentes a:
· Pigmentação da pele;
· Miscigenação (probabilidade em Genética)
Saberes sobre territorialidade






Taxionomia
Trabalhar com fatos pertinentes a:
· Relação entre as doenças causadas por microorganismo e a falta de saneamento básico;
· Uso das plantas medicinais como costume dos povos africanos.


Química
EIXOS
CONTEÚDOS APLICÁVEIS
METODOLOGIA
Saberes, culturas, valores, datas (calendário), personalidades e memórias das comunidades
Reações químicas
Trabalhar com fatos pertinentes a:
· Purificação da água;
· Poluição dos mananciais;
· Coleta seletiva do lixo.



Área de conhecimento ou componente curricular: Ciências Sociais, História, Geografia, Sociologia, Filosofia
Proponentes:
Darciléa Santos Pereira De Sousa
Esdras Eletier Queiroz Leal
Luiz Carlos Lobato Da Costa
Júlia Pinho Da Silva
Maria Do Socorro Assis Franco
Maria Da Conceição Assis Franco
Maria Rivanilda Alves Felizardo

EIXOS
CONTEÚDOS APLICÁVEIS
METODOLOGIA
Saberes, culturas, valores, datas (calendário), personalidades e memórias das comunidades
Analisar o processos de chegada dos negros no Brasil, bem como as comissões de trabalho.
1 – Pesquisa bibliográfica, documentário, filmes, entrevistas, e outras fontes que surjam durante a realização de propostas de trabalho
2 – visitas as comunidades remanescentes quilombolas
3 – aplicação de questionários nas áreas  sócios econômicos e cultural dos povos quilombolas.
4 – produção de materiais escritos, visuais e orais que reflitam a pesquisa realizada   
Saberes sobre territorialidade
Identificar a localização geográfica dos principais quilombos no período colonial.

História dos Quilombos no Brasil e na Região (conceitos, lideranças, associações)
Identificar as diferentes formas de resistência, especialmente as formações dos quilombos.

Histórias e datas importantes do Movimento Negro Local, Nacional de Internacional
Desenvolver um estudo sobre os remanescentes quilombolas.

Cultura Africana e Afrobrasileira
Estudar o Quilombo dos Palmares em seus principais aspectos



Área de conhecimento ou componente curricular: Língua Portuguesa
Proponentes:
Anderson Remédios da Silva
Éder Sodré Inácio
Francisco José Ribeiro Costa Júnior
Ivanês Brito Veras
Maria Aparecida de Araújo
Maria Eliana Teixeira de Sousa e Sousa
Marta Regina Moraes Araújo

EIXOS
CONTEÚDOS APLICÁVEIS
METODOLOGIA
Saberes, culturas, valores, datas (calendário), personalidades e memórias das comunidades
1Tipologia textual
1.1 Narração: contos, mitos, relatos

2 Variação lingüística, africanidades
2.2 Receitas, línguas, dialetos, músicas, artes visuais
1 Preparar e viabilizar momentos de pesquisas, leituras e produção textual, lúdico e dramatização.
2 Projeto: O que se como com farinha: pesquisa, dialeto, iguarias, integrar os dialetos e iguarias à cultura africana
Histórias e datas importantes do Movimento Negro Local, Nacional de Internacional
3 Literatura Afro-brasileira e Africana
Datas: 13 de maio e 20 de novembro
3 Propor aos alunos análise da Literatura Afro-brasileira e Africana, bem como, leitura, dramatizações, cartazes, etc.
Projeto Chá Literatura
Trabalhar os descritores para melhorar a compreensão dos conteúdos


Área de conhecimento ou componente curricular: Artes
Proponentes:
Anderson Remédios da Silva

EIXOS
CONTEÚDOS APLICÁVEIS
METODOLOGIA
Saberes, culturas, valores, datas (calendário), personalidades e memórias das comunidades
Mitos, músicas, danças, teatro, pintura, arquitetura e fotografia brasileira com influência africana
- Leitura de textos com orientação do professor
- Seminário e pesquisas
- Debates
- Observação, leitura e releitura de pinturas de autores africanos e afro-brasileiros, como Arthur Timoteo, Estêvão Silva, etc.
- Audição e análise de letras de músicas afro-brasileiras, por exemplo, hip-hop, lundu, síria e outros.
- Exposição de vídeos com danças sob influências africanas, como, as pretinhas de Angola, dança do coco e marujada de Bragança.
- Exposição e análise de cartazes contendo exemplos de esculturas, arquiteturas e fotografias afro-brasileiras.
- Leitura e debate de textos contendo a história do teatro negro no Brasil.
- Dramatização de peças e mitos afro-brasielrio.




Texto e fotos: Cilene Melo e Tony Vilhena