EXPOSIÇÃO "ÁFRICA: OLHARES CURIOSOS", Hilton Silva

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Mãe Stella assume cadeira que foi de Castro Alves na Bahia.

'Sabedoria não tem cor e não pertence a nenhuma raça específica', disse.  

Aos 88 anos, Mãe Stella é enfermeira formada na UFBA e publicou 6 livros.

Mãe Stella (Foto: Egi Santana/G1)
Mãe Stella foi escolhida para cadeira na ABL em votação no dia 25 de abril deste ano (Foto: Egi Santana/G1)
Mãe Stella de Oxóssi recebeu o título de "imortal" pela Academia de Letras da Bahia (ALB) na noite desta quinta-feira (12), em Salvador. Stella de Azevedo dos Santos é a primeira mulher negra e mãe-de-santo a assumir o posto no Brasil. Enfermeira de formação, ela assume a cadeira 33, que tem como patrono o poeta, escritor e abolicionista Castro Alves.
Durante seu longo discurso, lido pelo acadêmico Carlos Capinam, em decorrência dos 88 anos da iaolorixá, Mãe Stella fez uma passagem por livros, poesias e frases famosas de seus antecessores na cadeira, como Castro Alves.

"Muitas pessoas lutaram para que eu pudesse ocupar esta cadeira. Entre elas. o patrono, que em vozes da África, clamou por nós. Se minha bisavó chegou ao Brasil presa a muitos outros negros africanos, hoje aqui me encontro acorrentada por um adorno que me une a todos os baianos, brasileiros e humanos. Letrados ou não letrados. O poeta dos escravos desejava ver todos os homens tratados com igualdade de condições. Por isso escreveu um dos mais conhecidos poemas da literautra brasileira, 'O Navio Negreiro'", pontuou em parte de seu discurso de pouco mais de uma hora de duração.
Afinal, a sabedoria não tem cor e não pertence a nenhuma raça específica"
Mãe Stella de Oxossi
Em um segundo momento, levou a plateia que lotava o plenário da ALB à comoção quando, após agradecer, garantiu sua permanência na luta pela igualdade de direitos: "Sigo esforçando-me para que a religião trazida pelo povo africano ao Brasil seja devidamente respeitada. Sobre o fato de uma mãe-de-santo "marrom" - como se auto-intitulou após falar da herança portuguesa e africana de seus ancestrais -, assumir a vaga, ela acrescentou: "Afinal, sabedoria não tem cor e não pertence a nenhuma raça específica".
Formada na Universidade Federal da Bahia (UFBA), mãe Stella é a ialorixá do terreiro Ilê Axé Opó Afonjá, fundado em 1910 em São Gonçalo do Retiro, no Cabula, na capital baiana.  No currículo de seus 88 anos, ela traz seis livros publicados, todos sobre a temática da religião africana, e dois títulos de Doutor Honoris Causa, oferecidos pela UFBA e pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
Capinam leu o discurso da nova "imortal" (Foto: Egi Santana/G1)
Capinam leu o discurso da nova "imortal"
(Foto: Egi Santana/G1)
Participaram da cerimônia devotos do Candomblé, membros da Academia, representantes da sociedade e autoridades como o governador Jaques Wagner e o prefeito ACM Neto.
"Creio que é uma homenagem mais do que justificada pelo que ela representa do ponto de vista de sua espiritualidade, mas também pelo que ela representa pela sua produção, seus artigos e livros. Está de parabéns a Academia, e Mãe Stella. É um passo importante para a quebra de qualquer tipo de preconceito que ainda aconteça", disse o governador. 
"Mãe Stella representa a cultura, a história, as tradições de nossa terra. Acho que é o exemplo da mulher baiana, com sua riqueza e grandeza, e sobretudo com seus exemplos sociais. Hoje, com imensa justiça, acaba sendo agraciada como imortal da Academia de Letras", pontuou o prefeito de Salvador, antes da cerimônia. A Ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Barrios, também esteve no evento.
Mais nova de quatro irmãos, Mãe Stella é considerada a sucessora de Mãe Menininha do Gantois (Maria Escolástica da Conceição Nazaré), um dos maiores nomes da religião africana no Brasil. Nascida em maio de 1925, na capital baiana, exerceu a profissão de enfermeira sanitarista por 35 anos. Hoje, em seu terreiro, funciona também a Escola Municipal Eugênia Anna dos Santos, que atende a cerca de 350 crianças do ensino fundamental. Ao todo, cerca de 100 famílias vivem na área do Ilê Axé Opó Afonjá.
Antes de se tornar imortal, Mãe Stella também recebeu a comenda Maria Quitéria, honraria da prefeitura de Salvador, a  Ordem do Cavaleiro, do governo do estado, e a comenda do Ministério da Cultura, pelos seus serviços prestados à cultura nacional.

Fonte: 
Egi Santana Do G1 BA

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