'Sabedoria não tem cor e não pertence a nenhuma raça específica', disse.
Aos 88 anos, Mãe Stella é enfermeira formada na UFBA e publicou 6 livros.
Mãe Stella foi escolhida para cadeira na ABL em votação no dia 25 de abril deste ano (Foto: Egi Santana/G1) |
Mãe Stella de Oxóssi recebeu o título de "imortal" pela Academia de
Letras da Bahia (ALB) na noite desta quinta-feira (12), em Salvador.
Stella de Azevedo dos Santos é a primeira mulher negra e mãe-de-santo a
assumir o posto no Brasil. Enfermeira de formação, ela assume a cadeira
33, que tem como patrono o poeta, escritor e abolicionista Castro Alves.
Durante seu longo discurso, lido pelo acadêmico Carlos Capinam, em
decorrência dos 88 anos da iaolorixá, Mãe Stella fez uma passagem por
livros, poesias e frases famosas de seus antecessores na cadeira, como
Castro Alves.
"Muitas pessoas lutaram para que eu pudesse ocupar esta cadeira. Entre
elas. o patrono, que em vozes da África, clamou por nós. Se minha bisavó
chegou ao Brasil presa a muitos outros negros africanos, hoje aqui me
encontro acorrentada por um adorno que me une a todos os baianos,
brasileiros e humanos. Letrados ou não letrados. O poeta dos escravos
desejava ver todos os homens tratados com igualdade de condições. Por
isso escreveu um dos mais conhecidos poemas da literautra brasileira, 'O
Navio Negreiro'", pontuou em parte de seu discurso de pouco mais de uma
hora de duração.
Em um segundo momento, levou a plateia que lotava o plenário da ALB à
comoção quando, após agradecer, garantiu sua permanência na luta pela
igualdade de direitos: "Sigo esforçando-me para que a religião trazida
pelo povo africano ao Brasil seja devidamente respeitada. Sobre o fato
de uma mãe-de-santo "marrom" - como se auto-intitulou após falar da
herança portuguesa e africana de seus ancestrais -, assumir a vaga, ela
acrescentou: "Afinal, sabedoria não tem cor e não pertence a nenhuma
raça específica".
Formada na Universidade Federal da Bahia
(UFBA), mãe Stella é a ialorixá do terreiro Ilê Axé Opó Afonjá, fundado
em 1910 em São Gonçalo do Retiro, no Cabula, na capital baiana. No
currículo de seus 88 anos, ela traz seis livros publicados, todos sobre a
temática da religião africana, e dois títulos de Doutor Honoris Causa,
oferecidos pela UFBA e pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
Capinam leu o discurso da nova "imortal" (Foto: Egi Santana/G1) |
Participaram da cerimônia devotos do Candomblé, membros da Academia,
representantes da sociedade e autoridades como o governador Jaques
Wagner e o prefeito ACM Neto.
"Creio que é uma homenagem mais do que justificada pelo que ela representa do ponto de vista de sua espiritualidade, mas também pelo que ela representa pela sua produção, seus artigos e livros. Está de parabéns a Academia, e Mãe Stella. É um passo importante para a quebra de qualquer tipo de preconceito que ainda aconteça", disse o governador.
"Creio que é uma homenagem mais do que justificada pelo que ela representa do ponto de vista de sua espiritualidade, mas também pelo que ela representa pela sua produção, seus artigos e livros. Está de parabéns a Academia, e Mãe Stella. É um passo importante para a quebra de qualquer tipo de preconceito que ainda aconteça", disse o governador.
"Mãe Stella representa a cultura, a história, as tradições de nossa
terra. Acho que é o exemplo da mulher baiana, com sua riqueza e
grandeza, e sobretudo com seus exemplos sociais. Hoje, com imensa
justiça, acaba sendo agraciada como imortal da Academia de Letras",
pontuou o prefeito de Salvador, antes da cerimônia. A Ministra da
Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Barrios,
também esteve no evento.
Mais nova de quatro irmãos, Mãe Stella é considerada a sucessora de Mãe
Menininha do Gantois (Maria Escolástica da Conceição Nazaré), um dos
maiores nomes da religião africana no Brasil. Nascida em maio de 1925,
na capital baiana, exerceu a profissão de enfermeira sanitarista por 35
anos. Hoje, em seu terreiro, funciona também a Escola Municipal Eugênia
Anna dos Santos, que atende a cerca de 350 crianças do ensino
fundamental. Ao todo, cerca de 100 famílias vivem na área do Ilê Axé Opó
Afonjá.
Antes de se tornar imortal, Mãe Stella também recebeu a comenda Maria
Quitéria, honraria da prefeitura de Salvador, a Ordem do Cavaleiro, do
governo do estado, e a comenda do Ministério da Cultura, pelos seus
serviços prestados à cultura nacional.
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