EXPOSIÇÃO "ÁFRICA: OLHARES CURIOSOS", Hilton Silva

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Professora Conceição Oliveira apresenta experiência de implementação da lei 10.639 em escolas de Breves/PA

Exposição dos alunos (foto profa. Conceição Oliveira)
A CONSTRUÇÃO DA VALORIZAÇÃO DA CULTURA AFRO BRASILEIRA E AFRICANANAS ESCOLAS MIGUEL BITAR E MARIA CAMARA PAES NO MUNICIPIO DE BREVES-PA ( ano 2004 e 2010)

MARIA DA CONCEIÇÃO FERREIRA OLIVEIRA*


INTRODUÇÃO
Desde a efetivação da lei 10639/2003 que tornou obrigatório o ensino da cultura afro brasileiro e africano nos componentes curriculares das escolas publicas e particulares de todo o pais, a temática tem sido objeto de constantes debates e cada vez mais diversos professores tem se empenhado em estudá-los afim de adequar as suas metodologias a essa nova demanda sociocultural.
Partindo deste contexto, o trabalho que se apresenta foi o resultado dos debates, pesquisas e estudos realizados em sala de aula com os alunos nas escolas Miguel Bitar e Maria Câmara Paes no município de Breves, onde nos fundamentamos em teorias, propostas e intervenções pedagógicas que estão voltadas para a diversidade étnico-cultural existente nas escolas e principalmente a participação dos alunos na construção e execução das atividades que citaremos no decorrer do mesmo.
Apresentaremos aqui o inicio do projeto, as etapas, os objetivos, os temas desenvolvidos, como também as metodologias utilizadas para a construção e efetivação do projeto o que será identificado através das imagens.

1- A PRATICA PEDAGÓGICA DOCENTE NA CONSTRUÇÃO DA VALORIZAÇÃO DA CULTURA AFRO-DESCENDENTE

No ano de 2004 após a efetivação da lei 10639/2003 um grupo de professores da escola municipal Miguel Bitar propôs como tema para a feira cultural da escola trabalhar de forma interdisciplinar a temática CONSCIÊNCIA NEGRA: O NEGRO NA LUTA DO SABER, DO PODER E DO SER. Onde o objetivo do tema era o de trabalhar na luta contra o preconceito, a discriminação e o racismo. Assim como conhecer e valorizar a diversidade cultural das diferentes etnias, com especial atenção à História da Cultura Afro-Brasileira e Africana, que contribuíram com a construção da identidade do povo brasileiro. Neste mesmo ano a temática já fazia parte do currículo da disciplina historia do ensino fundamental nível 2, em que muitas discussões, debates e construções de trabalhos faziam parte das aulas o que tornou a realização dos trabalhos mais dinâmicos.
O projeto proposto pelos professores foi organizado de forma interdisciplinar onde se inseriu a temática em vários campos do conhecimento (historia, geografia, língua portuguesa, matemática etc), tendo como publico alvo alunos de 5ª a 8ª série onde cada professor abordou os conteúdos que contemplasse a temática proposta.
Na disciplina de Historia que é objeto deste estudo foram trabalhados especificamente na Contribuição da cultura africana para a formação da identidade do povo brasileiro como: 1-O sincretismo religioso, 2- Das congadas na áfrica para os festejos religiosos no Brasil, 3-Os ritmos africanos na influencia da musica e dança brasileira e 4- A importância da formação dos quilombos como preservação de sua cultura.

2- METODOLOGIAS COMO SUPORTE IMPRESCENDIVEL PARA A REALIZAÇÃO DO TRABALHO
A metodologia dos(as) educadores(as) é composta de técnicas que são os componentes operacionais que viabilizam a atividade pedagógica. Utilizar metodologias de ensino que consigam inseriros alunos no seu contexto social, através de diálogos abertos, irá tornar o ensino da História algo produtivo e ligado com os pensamentos e inovações do mundo moderno, o qual nossos alunos estão inseridos.
Para a realização dos trabalhos pudemos utilizar as seguintes estratégias metodológicas: exposições dialogadas, discussões, problematização, relato de experiências, dramatizações, ilustração, exemplificação, estudo do meio, debates em grupo, estudo de textos, interpretação de letras de músicas e utilização de elementos da cultura afrobrasileiro (como a dança, a música, a religião, a percussão, as tranças e as bijuterias e outras peças ornamentais).
Para selecionar a metodologia, no planejamento das atividades, foi necessário considerar alguns critérios básicos, como os objetivos, a natureza do conteúdo, a natureza da aprendizagem, o ambiente e o nível de desenvolvimento dos alunos. Assim, a metodologia de toda prática pedagógica foi fundamental para o desenvolvimento das atividades, tanto para os alunos, quanto para o público visitante. Assim, a metodologia utilizada nas atividades do projeto foi dividida nível de ensino encontrando qual a melhor se adequava a cada turma. Veja:

2.1-O sincretismo religioso
Para a realização do trabalho nesta temática foram realizados leituras de textos, pesquisa, visita as casas de candomblé na própria cidade procurando sempre enfatizar que os povos indígenas e africanos, assim como os católicos portugueses foram os protagonistas da gênese do sincretismo religioso no período colonial. Para a partir dai montar uma forma de apresentação na feira. Assim foi montado um altar onde os alunos apresentaram as imagens dos santos católicos relacionando as divindades africanas.
No trabalho das congadas os alunos fizeram pesquisa para conhecer como se dava a festa das congadas na áfrica, quais os personagens envolvidos para assim poder representar-la. Foi realizada também neste trabalho entrevista e coletas de fotografia da festividade de São Benedito na cidade de Gurupá, os alunos decidiram construir uma maquete com bonecos onde representasse as duas festas. Observando as semelhanças e diferenças entre as mesmas.
A contribuição africana na musica, na dança com esta temática pode-se apresentar uma variedade de atividade o carnaval foi o objeto de destaque na preparação dos trabalhos contamos com a construção de uma maquete que representava o carnaval ruano Brasil e sua influencia para o carnaval de da Bahia realizado atualmente por todo o Brasil,foto1. Representado por miniatura, pinturas e imagens foram ferramentas utilizadas para mostrar os movimentos do Hip Hop, como também a composição de um grupo de alunas que montaram coreografia e confeccionaram suas roupas para apresentar um dança em homenagem a zumbi, na musica da Cantora Leci Brandão.


2.4- A importância da formação dos quilombos como resistência e preservação de sua cultura.
O quilombo, este foi um dos maiores e mais bonito trabalho realizado na neste dia. O quilombo foi representado na própria área da escola, os alunos representaram os moradores do quilombo negros, índios, mestiços, pardos. Tentou-se representar o mais próximo da realidade dos antigos quilombos, com animais, frutas, plantações, artesanato etc. enfim, os visitantes entravam na área e tinham a oportunidade de conhecer um pouco da historia da formação dos quilombos contada e representada pelos próprios alunos.


2- APRESENTAÇÕES DA DIVERSIDADE DA CULTURA FRO BRASILEIRA NA ESCOLA MARIA CAMARA PAES 20 DE NOVEMBRO DE 2010
Pensar nessa dimensão de valorização nos coloca diante de um imenso universo a ser descoberto, ressignificado, reapropriado por nós no nosso dia-a-dia, para além da sala de aula.
É um convite para que percebamos o quanto somos afro-descendentes, afro-brasileiros, não importando a cor da nossa pele ou marca fenotípica de nossa ascendência.
Em 2010 foi desenvolvido o projeto sobre cultura afro-brasileira na Escola Estadual Maria Câmara Paes nesse município, em atendimento a Lei nº 10.639/03 que estabelece diretrizes legais para implantação nos currículos educacionais do estudo sobre a contribuição da cultura Afro-Brasileira e dos seus descendentes na construção da história brasileira, da composição étnica e dos desafios em estabelecer políticas de ações afirmativas para que tenhamos uma sociedade mais solidária e respeitosa quanto às diferenças étnico raciais, buscaremos valorizar a diversidade cultural das diferentes etnias, com especial atenção à História da Cultura Afro-Brasileira e Africana, que contribuíram com a construção da identidade do povo brasileiro.
Partindo deste contexto foi apresentado um projeto com uma proposta interdisciplinar, onde alunos e professores pudessem pensar e tomar iniciativas de temas relacionados à valorização da cultura afro -brasileira nas respectivas áreas do conhecimento, porém, alguns professores apresentaram resistência a participar do projeto e aderir as idéias propostas no mesmo reduzindo assim na participação das disciplinas História, sociologia e Educação física.
O projeto-piloto começou fazer parte do cenário das aulas das respectivas disciplinas em maio de 2010, onde a proposta final seria apresentar a culminância para toda a comunidade escolar apreciar o resultado do trabalho desenvolvido já que a coletividade faz parte do principio da sociedade africana.
A metodologia utilizada foi também riquíssima como discussão e debate em sala de aula, visitas a casa de candomblé no município, entrevistas, documentários em vídeo e panfletos confeccionados pelos alunos que seriam distribuídos para a comunidade no decorrer da execução dos trabalhos, ainda foram confeccionados cartazes educativos dentro da temática e um mural de poesia e desenho, que seria lido durante o intervalo das exposições.
O projeto ganhou tamanha proporção que saiu de dentro do muro da escola e foi apresentado na praça em frente a prefeitura, realizado no mês de novembro escolhido exatamente o dia 20 de novembro, dia nacional da consciência negra.
A disciplina de Educação Física apresentou todos os ritmos e danças da cultura afro-brasileiro desde o candomblé, Sampa, pagode, Fank, hip-hop, axé, ritmos locais como o carimbo originário também da cultura africana, capoeira etc. os alunos contavam a origem e apresentavam a respectiva expressão corporal através da dança. Veja algumas das imagens registradas das apresentações de palco.
A disciplina historia e sociologia ficou com as seguintes temáticas a serem apresentada: Memória, Valores e Tradições; A participação dos africanos e de seus descendentes na formação histórico-cultural do Brasil; A literatura afro-brasileira e suas expressões significativas (Vocabulário); O Negro e a Universidade; O preconceito racial no Brasil; A religião africana e o sincretismo religioso; A diversidade cultural, o multiculturalismo e o racismo; Arte e artesanato africano; As personalidade negras da História; O negro e a música no Brasil; A culinária afro brasileira. Todas as respectivas temáticas foram realizadas de forma dinâmica e apreciativas onde o publico podia interagir com os alunos, a metodologia utilizada na exposição de cada temática diferenciava uma da outra. Observávamos a participação do publico ao visitar cada estante de trabalho.
Pôde-se constatar com a iniciativa dos trabalhos realizados nas duas escolas citadas o respeito à diversidade cultural e o reconhecimento de sua identidade, muitos alunos passaram a tratar os alunos negros com respeito, diminuindo consideravelmente a discriminação racial dentro da escola. Os alunos que participaram do projeto no 1° ano do ensino médio hoje são os multiplicadores dentro da escola. A temática cultura afro brasileira dentro do currículo da disciplina Historia e Sociologia não é uma obrigatoriedade, mas uma prioridade e não apenas falar um dia mais o ano todo. Este ano na semana da pátria os alunos escolheram o tema para o desfile da escola. O que se observa é que embora somente as disciplinas história e sociologia se preocupam em discutir as relações étnicas raciais mesmo assim se observa grandes mudanças atitudinais em nossos alunos.

Algumas Considerações

Neste trabalho pudemos compartilhar alguns momentos vividos na execução dos projetos citados anteriormente, cuja temática é a efetivação da lei 10639/2003 que tornou obrigatório o ensino da cultura afro-brasileira nas escolas particulares e publica de todo pais.
Sabemos que a obrigatoriedade do ensino da história da África e da cultura africana, proposta pela legislação vigente, não representa a efetiva superação do racismo na escola e na sociedade como um todo. Mas acreditamos tratar-se de uma importante conquista que possibilita a construção de um ambiente educativo menos eurocêntrico e segregador, na medida em que seus educadores se comprometam efetivamente com as mudanças que se fazem necessárias e lutem para que, de fato, elas se materializem. Sendo assim, a formação continuada dos profissionais da educação é uma necessidade para atender às exigências do cotidiano de seu exercício profissional, às solicitações dos estudantes e da sociedade em geral. Contudo, para a construção de novos conhecimentos acerca das questões étnicorraciais no cotidiano escolar e, por conseguinte, a transformação das práticas cotidianas dos professores, é preciso muito mais que capacitações isoladas ou comemorações estanques, mas é preciso mobilizar a construção de projetos em que a formação continuada dos professores seja vista como necessidade fundamental para a construção de um ambiente educativo verdadeiramente formador, onde seja dada ênfase a outros elementos que fazem parte do dia-a-dia da escola como seus ritos, símbolos, etc.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BRASIL. Lei 10.639, de 09 de janeiro 2003. Altera a Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece a diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História de Cultura Afro-brasileira”. Diário Oficial da República federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília,DF, 10 de janeiro de 2003. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br. Acessado em: maio. de 2010.

FREIRE, Paulo. Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

CUNHA, Pedro. & Vaz, Esther (orgs.).Desafios contemporâneos e trabalho social. Porto: Edições Universidade Fernando Pessoa, 2003

DURKHEIM,Émile. Educação e sociologia. Trad. Nuno Garcia Lopes. Lisboa: Edições 70, 2001

FREIRE, Paulo. Cartas a Guine-Bissau: registros de uma experiência em processo. 2ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978

 * Professora de geografia da Rede Estadual de Educação do Pará, concluinte do Curso de Formação em Ensino da História e Cultura Africana e Afro-brasileira na Educação Básica - Projeto Afro-Pará.





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