A
exposição "Nós de Aruanda, artistas de terreiros", estará no Centro
Cultural da Justiça Eleitoral a partir da próxima terça-feira, dia 23 de
maio de 2017, na Rua João Diogo, 254 em Belém/PA.
Será o início da quinta versão do projeto iniciado em 2013 pelos Grupo de Estudos e Pesquisa Roda de Axé e Grupo de Estudos Afro-Amazônico/ GEAM (NEAB) da UFPA.
Na programação da abertura, teremos apresentação do Afoxé Ita Lemi Sinavuru, e feira de quitutes da culinária afro-brasiliera, que serão vendidos à preços acessíveis.
Neste ano serão mais de 50 artistas e grupos de artistas expondo seus trabalhos artísticos http://radioexu.com/evento/27398/belempa-exposicao-nos-de-aruanda-artistas-de-terreiro-no-centro-cultural-da-justica-eleitoral
Será o início da quinta versão do projeto iniciado em 2013 pelos Grupo de Estudos e Pesquisa Roda de Axé e Grupo de Estudos Afro-Amazônico/ GEAM (NEAB) da UFPA.
Na programação da abertura, teremos apresentação do Afoxé Ita Lemi Sinavuru, e feira de quitutes da culinária afro-brasiliera, que serão vendidos à preços acessíveis.
Neste ano serão mais de 50 artistas e grupos de artistas expondo seus trabalhos artísticos http://radioexu.com/evento/27398/belempa-exposicao-nos-de-aruanda-artistas-de-terreiro-no-centro-cultural-da-justica-eleitoral
NÓS DE ARUANDA – ARTISTAS DE TERREIRO
Nós
de Aruanda é um convite a uma viagem pelo imaginário das Religiões de
Matriz Africana existente no Pará. São elas Mina, Umbanda e o Candomblé,
passando pelo Pajelança,
a Encantaria e o Catolicismo Popular.
São
formas poéticas de falar do sagrado, do mágico e do amor aos nossos
Orixás, Inkisses, Voduns, Espíritos e Encantados. Mas, o que é significa
Aruanda?
Para
o leitor mais apressado, Aruanda seria a corruptela da Luanda,
precisamente São Paulo de Luanda, antigo porto nas margens do Oceano
Atlântico, atual capital
de Angola, onde foram embarcados africanas e africanos escravizados
trazidos para o Brasil Colonial. Para outros, Aruanda é um lugar
utópico, o paraíso da liberdade perdida no imaginário afro-brasileiro,
uma cidade que orbitaria em plano mágico/ espiritual.
Um lugar para voltar.
“A
palavra habita cantigas de brincadeiras de roda, em jogos de capoeira,
em rezas e cantos religiosos, em manifestações de cultura popular e
outras situações em
que os povos negros têm importância na construção da cosmologia do lugar
e seu povo.” Nós de Aruanda brinca com os sentidos que essa expressão
pode ter: de quem, ou de quais nós, nós estamos falando? Talvez o que
queiramos seja nos debruçar sobre esses enlaces
emaranhados desses nós que, ao fim, significa a busca por conhecer esse
rico universo numa perspectiva diferenciada: a pesquisa e o estudo como
ferramentas para conhecer, descobrir, divulgar e defender a riqueza das
culturas e religiões de matriz africana e
suas correlações com as muitas Áfricas que inventamos no Brasil (Tata
Kinanbongi)
A
necessidade de inserção dos artistas de terreiros no circuito de artes
visuais surgiu no final de 2011 como um 'insigth' durante as aulas da
disciplina "Poéticas
Afro-amazônicas" para o curso de especialização em 'Educação para as
relações étnico-raciais' ofertado pelo Grupo de Estudos Afro-Amazônicos —
GEAAM/ UFPA. Foi nessas aulas, em que tínhamos o objetivo de subsidiar o
ensino de arte e cultura afro-brasileiras
e contribuir com a implantação da Lei 10.639/2003, que percebemos que a
maioria das obras que a história da arte registra como "arte
afro-brasileira" são de artistas euro-descendentes que não fazem parte
de comunidades tradicionais de matrizes africanas, e
ao fim o que percebemos é um olhar preconceituoso sobre as práticas
tradicionais afro-brasileira produzida por artistas que apenas se valem
da temática étnico-racial para usa-las em trabalhos sem nenhum
envolvimento ou aprofundamento sobre a diáspora africana
no Brasil.
A
questão é que as artes visuais (diferente do teatro, da dança e da
música) é o campo mais restrito das ditas linguagens artísticas, e o que
percebemos é que as
artes visuais parecem um campo fechado de uso restrito das camadas mais
abastadas da sociedade – um mundo restrito às elites.
Essa
percepção estimulou o GEP Roda de Axé a iniciar o mapeamento da
produção artística nas comunidades de terreiros, e nessa pesquisa - que
consideramos em estágio
embrionário - encontramos vários artistas que estão nesse processo de
inserção e legitimação no circuito das artes visuais.
A
proposta que o grupo apresentou aos artistas foi de reunir todos
eles/nós em um esforço coletivo de realização de uma exposição em
homenagem à Mãe Doca - uma
celebração
à memória da luta de Dona Rosa Viveiros, ou Nochê Navanakoly, ou Mãe
Doca, negra mulher e maranhense de Codó, que apenas três anos após a
abolição da escravatura enfrentou o racismo, preconceitos da época e
inaugurou seu Terreiro de Tambor de Mina
na capital paraense. A partir dos 18 de março de 1891 ela foi presa
várias vezes porque tocava tambores e cultuava as divindades africanas
com as quais preservava as tradições de matriz afro-amazônica, e nem por
isso desistiu de manter aberto o terreiro que
dava lugar à manutenção das tradições de sua origem negra africana. A
consciência negra foi o que motivou Mãe Doca a enfrentar os desmandos da
polícia e o poder constituído em alicerces racistas e discriminatórios.
Nessa
mesma perspectiva, mobilizamos também os pesquisadores da UFPA,
principalmente os da área de ciências humanas e sociais, para conhecer e
escrever sobre a poética
dos artistas de terreiros. Com isso tudo nós abrimos espaço para iniciar
a inserção do protagonismo de artistas afro-brasileiros, e da
cosmologia das comunidades de terreiros, na história da arte brasileira.
Superando
todas as expectativas, os artistas foram muito mais além dos objetivos
iniciais e passaram a ocupar espaços das artes visuais em outros
projetos
que se multiplicaram a partir de 2013, com os desdobramentos da Nós de
Aruanda em 04 exposições: 2013 – Galeria Theodoro Braga; 2014 – Galeria
Theodoro Braga; 2015 – Galeria Canto do Patrimônio, do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional –PHAN;
2016 – Galeria Theodoro Braga (Edital de pauta da GTB/ FCP), apresentando
a diversidade dessa produção "periférica" como um discurso afirmativo
do protagonismo afro-amazônico na produção de poéticas visuais.
Aruanda,
enfim é um lugar para voltar, para os africanos escravizados e seus
descendentes voltarem. Aruanda é um lugar para eles, seres do espaço
astral, senhores
do axé habitarem, Aruanda, somos todos nós, por isso somo Nós de
Aruanda!
Profa. Marilu Márcia Campelo
UFPA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário