Por Kátia Simone Alves de Araújo
Especialista em Educação COPIR/SEDUC
Mestranda em Antropologia UFPA
Este registro fotográfico procura retratar o espaço comunitário de
Cachoeira Porteira. É decorrente de um período de trabalho voltado a
formação continuada para professores atuantes em escolas quilombolas, em
janeiro do corrente ano, sob a coordenação da Coordenadoria para
Educação da Promoção da Igualdade Racial - COPIR/SEDUC, no município de
Oriximiná, no Estado do Pará.
É possível registrar diferentes expressões de ancestralidade negra ao
longo das margens do rio Trombetas, embora estas pareçam não compor a
diversidade étnica, racial e cultural da região amazônica. Há certa
invisibilidade em torno dessas comunidades, por serem ofuscadas e
silenciadas por pressões econômicas, fundiárias, processos de
discriminação e exclusão social.
Entretanto, a presença negra ao longo da calha do Rio Trombetas é
documentada desde o começo do século XIX. A existência de “mocambos” as
margens do rio se constituiu em decorrência de estratégias de
resistência por homens e mulheres que viviam na condição de escravizados
no período da economia colonial na região, fugitivos das fazendas de
Santarém e Óbidos.
O território remanescente de quilombo de Cachoeira Porteira, está
situado no alto curso do Trombetas, é composto por uma rede de
parentesco e amizade com cerca de 85 famílias, que vivem da pesca, da
caça, das roças, da produção de farinha de subsistência, e da extração
comercial da castanha . Durante o período das águas baixas é possível
visualizar as rochas dispersas em alguns trechos do rio.
A área é tradicionalmente ocupada e organizada ao longo
de ambos os lados de uma estrada de terra batida empoeirada, com
singelas edificações como: as casas de moradia, a igreja, a escola de
ensino fundamental, um alojamento para os professores que não residem na
comunidade e provavelmente, também, aos povos indígenas da região.
A Cachoeira chamada Porteira aparece nos meses do verão na
confluência dos rios Trombetas e Mapuera. A Porteira era um lugar
estratégico para os quilombolas, e significou o primeiro “obstáculo para
as expedições de captura e punição”. Assim, para romperam com sua
condição social procuravam refugio nas florestas, fugiam dos cacoais,
das fazendas de criar, das propriedades dos senhores estabelecidos nesta
área em busca da liberdade negada pelo sistema escravista.
O futuro das populações tradicionais que vivem nessa região está
atualmente ameaçado pelos projetos de construções de hidrelétricas na
área da bacia do rio Trombetas. Temerosos em perderem suas terras para
as barragens, lideranças de 35 comunidades quilombolas vem promovendo
encontros no sentido de fortalecer e garantir seus direitos
territoriais, sociais, ambientais, econômicos e culturais. Se insere
nessa pauta o respeito e valorização de suas identidades, suas formas de
organização e de suas diferentes instituições como a Associação das
Comunidades Remanescentes de Quilombos do Município de Oriximiná
(ARQMO).