A segunda metade do século XVIII foi
marcada por intensas transformações na história. No Brasil, não foi
diferente, e em 1798, o mês de agosto ficou marcado como um dos mais
importantes para o movimento negro brasileiro. Foi de 12 a 25 de agosto
de daquele ano que negros, mulatos e mestiços comandaram uma das maiores
manifestações populares em busca de democracia, igualdade e melhores
condições de vida para todos os brasileiros: a Revolta dos Búzios,
conhecida também como Conjuração Baiana, Revolta dos Alfaiates e
Inconfidência Baiana.
Para celebrar os ideais de igualdade,
liberdade e democracia reivindicados na Revolta, a Fundação Cultural
Palmares (FCP), em parceria com o Ministério da Cultura, reeditará a
cartilha “Revolta dos Búzios – Uma história de Igualdade no Brasil”, que
foi produzida pelo Olodum com ilustrações do diretor executivo da
Revista Raça Brasil e cartunista Maurício Pestana.
Segundo o presidente da FCP, Eloi
Ferreira de Araujo, reeditar a obra vai permitir que mais pessoas
conheçam a história dos homens que deram início ao processo de liberdade
dos afro-brasileiros. “A sociedade vai tomar conhecimento desse
acontecimento histórico que marcou a luta contra a escravidão no Brasil e
os seus principais líderes João de Deus do Nascimento, Lucas Dantas de
Amorim Torres, Manuel Faustino Santos Lira e Luís Gonzaga das Virgens e
Veiga, que têm seus nomes escritos no livro dos Heróis
Brasileiros, conforme a Lei nº 12.391 sancionada pela presidenta Dilma
Rousseff”, afirma. “Ressalto também que esta é uma ação que busca a
implementação da Lei nº 10.639/03 sobre a relevância da cultura africana
no Brasil”, completa Eloi Ferreira.
Para João Jorge, presidente do Olodum, a
reedição da cartilha é uma maneira de apresentar aos jovens estudantes a
história do Brasil com outro olhar. “É possível conhecer nossa história
de uma maneira muito mais agradável, além de permitir ao nosso país se
reencontrar e reconhecer seus verdadeiros heróis”, ressalta.
Programação cultural –
João Jorge lembra também da programação cultural que acontecerá ao longo
de todo o mês de agosto em Salvador, cidade que serviu de cenário à
luta e relembrará os 214 anos da Revolta dos Búzios. Segundo ele, os
eventos que acontecem desde 1983 sempre neste mês, são maneiras de
retomar e homenagear um momento que deu o real significado à democracia e
à liberdade para os brasileiros.
“Desde a década de 1980, quando
começamos um trabalho de resgate da memória da liberdade do Brasil,
homenageamos os nossos verdadeiros heróis, que foram jovens negros que
morreram lutando pela abolição da escravatura e pela proclamação da
república”, conta. “Mesmo que a abolição e a república não tenham sido
aquelas sonhadas, esses homens merecem ser celebrados e homenageados
para que a promessa de igualdade, que ainda hoje está em curso, continue
a existir”, completa.
Confira a programação no fim da matéria.
A Revolta no samba – A
Revolta dos Búzios também será relembrada no carnal paulista de 2013.
Com o enredo “Da revolta dos búzios à atualidade. Nenê canta a
igualdade”, a Escola de Samba Nenê de Vila Matilde levará para a
passarela do samba em seu próximo desfile a luta pela igualdade.
O samba-enredo, que marcará o retorno da
agremiação ao grupo especial de desfiles do carnaval paulista, foi
definido pela Comissão de Carnaval da Nenê, que luta pelo 12º título do
Carnaval de São Paulo, e terá entre os parceiros o Governo do Estado da
Bahia e a banda Olodum.
O desfile está previsto para as 22h do sábado de Carnaval, dia 9 de fevereiro.
Heróis do Brasil
– Os nomes dos líderes da Revolta dos Búzios foram inscritos no Livro
de Aço dos Heróis Nacionais em 4 de março de 2011, mais de 200 anos após
a morte deles. Esses heróis são símbolos do movimento que influenciou
fortemente os ideais libertários dos brasileiros em uma época em que os
direitos contrastavam com a precária condição de vida do povo negro.
O grande marco do movimento foi a
articulação de grupos mais pobres da população baiana para defender
propostas que realmente os representassem. A conspiração surgiu das
discussões promovidas pela Academia dos Renascidos e foi apoiada pelas
mais diversas classes sociais, tornando-se um dos primeiros movimentos
populares da história do país. O movimento tinha por princípios a
emancipação da colônia e a abolição da escravidão na busca por uma
república democrática. O sonho, porém, foi realizado apenas 147 anos
depois.
Saiba quem são os heróis da Revolta dos Búzios:
João de Deus do Nascimento
(1761 – 1799)
Filho de mulata alforriada com português, João de Deus nasceu em Salvador. Inconformado com a situação de miséria da colônia, participou de reuniões secretas, juntamente com estudantes, comerciantes, intelectuais, soldados e artesãos. Ao tomar conhecimento da Revolução Francesa, passou a discutir os ideais liberais e as possibilidades de sua aplicação no Brasil.
(1761 – 1799)
Filho de mulata alforriada com português, João de Deus nasceu em Salvador. Inconformado com a situação de miséria da colônia, participou de reuniões secretas, juntamente com estudantes, comerciantes, intelectuais, soldados e artesãos. Ao tomar conhecimento da Revolução Francesa, passou a discutir os ideais liberais e as possibilidades de sua aplicação no Brasil.
Lucas Dantas de Amorim Torres
(1775 – 1799)
Pardo, escravo liberto, soldado e marceneiro, Lucas Dantas foi o responsável pela reunião de representantes das mais diversas classes sociais para debater sobre a liberdade e a independência do povo baiano.
(1775 – 1799)
Pardo, escravo liberto, soldado e marceneiro, Lucas Dantas foi o responsável pela reunião de representantes das mais diversas classes sociais para debater sobre a liberdade e a independência do povo baiano.
Manuel Faustino Santos Lira
(1781 – 1799)
Filho de escrava liberta e pai desconhecido, Manuel Lira também nasceu em Salvador. Foi um dos primeiros suspeitos pela autoria de panfletos anônimos que conclamavam a população a defender a “República Bahiense”.
(1781 – 1799)
Filho de escrava liberta e pai desconhecido, Manuel Lira também nasceu em Salvador. Foi um dos primeiros suspeitos pela autoria de panfletos anônimos que conclamavam a população a defender a “República Bahiense”.
Luís Gonzaga das Virgens e Veiga
(1763 – 1799)
Soldado, negro, Luís Gonzaga das Virgens e Veiga era o mais letrado entre os líderes da revolta. Descendia de portugueses e crioulos. Sentiu e expressou o sentimento de revolta contra o preconceito de cor dominante no seu tempo. Foi autor do mais polêmico manifesto feito durante o movimento.
Por Drielly Jardim
(1763 – 1799)
Soldado, negro, Luís Gonzaga das Virgens e Veiga era o mais letrado entre os líderes da revolta. Descendia de portugueses e crioulos. Sentiu e expressou o sentimento de revolta contra o preconceito de cor dominante no seu tempo. Foi autor do mais polêmico manifesto feito durante o movimento.
Por Drielly Jardim
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