O Pará foi destaque no 7º Prêmio Educar para a Igualdade Racial
e de Gênero: experiências de promoção da igualdade étnico-racial em
ambiente escolar, pela execução do projeto "Semana Integrada de Combate
ao Racismo", desenvolvido em parceria com as escolas públicas estaduais
Ademar de Vasconcelos, do município de Salvaterra, e Gasparino Batista,
do município de Soure, na Ilha do Marajó. A experiência será colocada
num catálogo com as 2.300 práticas vencedoras.
A premiação foi na categoria "Professor de Educação Escolar
Quilombola", coordenado pelo professor Vinicius Darlan da Silva Andrade,
que receberá a premiação no Dia do Professor, em 15 de outubro, em São
Paulo, numa cerimônia promovida pelo Centro de Estudos de Relações do
Trabalho e Desigualdades (CEERT), o organizador da premiação.
O reconhecimento serve como amostra para outras escolas e ações
pedagógicas, dentre as práticas vencedoras mapeadas em todo o Brasil, e é
reconhecida pelo Ministério da Educação (MEC) como uma das principais
ações de promoção da igualdade étnico-racial na educação, realizada por
uma instituição da sociedade civil.
Vinicius Darlan explica que a ideia da Semana teve como ponto de
partida a Lei Federal nº 10.639/03, que torna obrigatório o ensino de
História e Cultura Africana e Afro-Brasileira nas escolas de Ensino
Fundamental e Médio.
A primeira instituição a receber o projeto foi a escola Ademar de
Vasconcelos, em 2010. Embora a escola esteja localizada na zona urbana
de Salvaterra, pelo menos 60% dos 700 alunos matriculados são de
dezesseis comunidades remanescentes de quilombolas.
Com a experiência, o projeto também foi levado para a escola
Gasparino Batista, localizada na zona urbana de Soure, a 15 minutos de
Salvaterra. Dos 1.100 alunos matriculados no ensino fundamental e médio,
60% são estudantes negros. A escola também recebe alunos de duas
comunidades da zona rural, que utilizam transporte escolar para sair de
suas casas, nas Vilas de Cajuuna e Pesqueiro.
No período de março e abril, são realizadas várias ações pedagógicas
para trabalhar a interdisciplinaridade e discutir as relações
étnico-raciais em sala de aula. Leituras direcionadas com autores negros
e conteúdos que enfatizam o abolicionismo e o etnocentrismo são
trabalhados nas disciplinas de Língua Portuguesa.
Os professores de Biologia desenvolvem atividades a partir dos
conteúdos das raças humanas para desmistificar a ideia de uma suposta
raça branca superior, reforçando que seres humanos estão enquadrados
dentro de uma única espécie.
As aulas de História reforçam o que a lei determina, desenvolvendo
conteúdos voltados para a História da África. Já nas aulas de Artes,
entram em cena a produção das máscaras, adereços e outros ornamentos de
origem africana, além dos ensaios das danças e ritmos, como o carimbó e a
capoeira.
O professor de inglês aproveita para traduzir com os alunos a
minibiografia de importantes líderes negros, entre eles, Martin Luther
King, um dos mais importantes líderes dos direitos civis dos negros nos
Estados Unidos, e de Nelson Mandela, o mais importante líder da África e
ganhador do prêmio Nobel da Paz, em 1993.
Todo esse trabalho de mobilização e sensibilização da comunidade
escolar pela superação do racismo recebe a culminância na Semana
Integrada de Combate ao Racismo, que ocorre geralmente na primeira
quinzena de maio, próximo ao dia 13 de maio, quando se celebra o Dia
Nacional de Denúncia contra o Racismo.
A semana tem na programação exibição de vídeos, documentários e
palestras com os professores das escolas e de técnicos da Coordenação de
Educação para a Promoção da Igualdade Racial (Copir), da Secretaria de
Educação do Pará (Seduc), que também fazem o acompanhamento pedagógico
do projeto.
Além disso, os estudantes e a comunidade participam de concurso de
beleza para valorizar a negritude, estimular as meninas a soltarem os
cabelos e a valorizarem as roupas e adereços afro. No encerramento da
Semana, toda a comunidade do entorno das escolas é mobilizada para
participar de uma caminhada com os alunos pelas principais ruas dos
municípios.
Segundo o professor Vinícius Darlan, a premiação é resultado do
comprometimento e envolvimento de toda a comunidade do entorno das duas
escolas estaduais. "Eu não fui pego de surpresa, mas fiquei muito feliz
com a notícia da premiação. Eu sabia que o projeto tinha consistência
pedagógica fundamentada em conteúdo, mas a interdisciplinaridade e o
envolvimento dos outros professores e dos alunos foram fundamentais",
disse ele, que também explica que os resultados alcançados, embora
subjetivos, já são perceptíveis. "Essa lei quer atingir uma
palavra-chave, a autoestima, e isso é imensurável: esse reconhecimento
de ser brasileiro e de ter orgulho de se enxergar enquanto negro",
completou.
Segundo ele, o mote do projeto é trabalhar a diminuição da evasão
escolar por conta do preconceito, partindo do pressuposto de que o aluno
com autoestima elevada tende a se manter na escola.
"Ele (o aluno) percebe que a história é dele e que não é algo
estranho falar da feijoada, do carimbó, da maniçoba, do samba e das
palavras africanas que estão em nosso dia a dia, como xodó, dengo e
cafuné", enfatizou Vinícius Darlan.
Texto: Julie Rocha
Fotos: Ascom/Seduc
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