“Sem a escola, sem a educação, a gente não avança no sentido de
se atingir uma igualdade racial na sociedade brasileira”. A afirmação é
da doutoranda da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB)
e pesquisadora do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD), a venezuelana Gianna Sanchez Moretti. Ela visitou, nos últimos
dias, as escolas estaduais Presidente Costa e Silva, em Belém, e
Professor Ademar de Vasconcelos, em Salvaterra, no Arquipélago do
Marajó. Ao se reunir com dirigentes e técnicos da Coordenadoria de
Promoção da Igualdade Racial (Copir) da Secretaria de Estado de Educação
(Seduc), nesta segunda-feira (28), Gianna Sanchez destacou ter gostado
dos projetos desenvolvidos nestas duas escolas com relação à inclusão de
aspectos da história e cultura dos povos negros nos currículos
escolares a partir da Lei Federal 10.639, de 2003.
“O papel da escola nesse processo de valorização da história e
cultura dos povos negros é fundamental, mas ela não é o único ator. A
escola trabalha paralelamente à família, à comunidade, à sociedade, ao
Poder Público”, enfatizou Gianna. No dia 16, a pesquisadora visitou a
Escola Presidente Costa e Silva, no bairro do Marco, e no dia 24, a
Escola Ademar de Vasconcelos, em Salvaterra.
Ações - Na Escola Costa e Silva, Gianna verificou a
experiência de estudantes e professores no enfoque teórico e prático de
conteúdos trabalhados em sala de aula, os quais são detalhados em
pesquisa de campo, como a Escola Quilombola do Baixo Acará. Na escola
Ademar de Vasconcelos, a pesquisadora conheceu o projeto da Semana
Integrada de Combate ao Racismo e outras ações.
“Eu percebi que dentro dessas escolas está sendo feito um trabalho já
há vários anos, inclusive, antes de a própria lei ser adotada, e que
este trabalho está inserido no currículo pedagógico. Os trabalhos
desenvolvidos têm muito conteúdo pedagógico que os professores estão
trabalhando dentro da sala de aula e na execução de projetos
interdisciplinares que movimentam vários professores e vários alunos de
diferentes séries”, afirmou.
Os projetos e os trabalhos desenvolvidos dentro das salas de aula
“têm tido um resultado positivo, sobretudo, na motivação, na autoestima
dos estudantes, porque este trabalho pedagógico visa trabalhar esses
aspectos, contribuindo com o enfrentamento da evasão escolar”.
Evasão - Sobre a relação evasão escolar e
discriminação racial, Gianna Sanchez observou que a partir das pesquisas
que ela tem feito no Pará e em outros estados do País e na análise de
indicadores educacionais, constata haver “um link muito forte entre o ser negro e deixar a escola, porque também há um link histórico
e socioeconômico, de vez que os mais pobres no Brasil são em maior
parte negros e os que mais sofrem violência e homicídios, em maior
parte, são jovens negros”.
Em qualquer sociedade, a escola tem papel estrutural na construção de
cidadãos, essa tarefa tem de ser desenvolvida em sintonia com a
família, a comunidade, para auxiliar ao estudante a entender conceitos,
assimilar conhecimentos e também prepará-lo para o mercado de trabalho.
“Esse trabalho tem que ser feito tolerando e respeitando a diversidade a
cultura e a realidade do estudante. Então, o estudante tem que se
identificar com o que está sendo ensinado na escola”, afirmou Gianna.
Currículo - Gianna Sanchez pesquisa sobre projetos e
ações de ensino da história e cultura afro-brasileira na educação
pública dos estados do Pará, Alagoas, Distrito Federal, Rio de Janeiro e
Rio Grande do Sul. Essa pesquisa serve de base para a tese de doutorado
de Gianna e subsidiar outros trabalhos em âmbito internacional voltados
para políticas públicas nessa área educacional e de Direitos Humanos.
Texto:
Eduardo Rocha
Fotos: Advaldo Nobre