O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF)
e a Campanha Nacional pelo Direito à Educação divulgaram na última
sexta-feira (31), que 3,7 milhões de crianças e adolescentes estão fora
da escola no Brasil. A informação faz parte de pesquisa que resultou no
relatório Todas as crianças na escola em 2015 – Iniciativa global pelas crianças fora da escola, documento que servirá de base ao levantamento de alternativas para o enfrentamento da evasão e do abandono escolar.
De acordo com as apurações, as maiores
desigualdades são observadas quando levadas em consideração a raça ou a
etnia e a renda familiar das crianças em idade escolar. Nos anos finais
da Educação Fundamental, o número de crianças negras com idade superior à
recomendada por série supera o dobro de crianças brancas. Enquanto para
as crianças brancas nesse perfil os dados correspondem a 30,67% (1,6
milhão), entre as crianças negras esta taxa é de 50,43% (3,5 milhões).
Ainda entre as crianças com idade
superior a recomendada, as pertencentes à famílias com renda de até um
quarto do salário mínimo chegam a 62,02% e as de famílias com renda
superior a dois salários mínimos correspondem a 11,52%. Já entre os
adolescentes de 15 a 17 anos, 1,5 milhão (14,8%) está fora da escola. Em
termos absolutos, o maior contingente está no Nordeste, com 524 mil
adolescentes. Em termos proporcionais, a região com maior número de
jovens fora da escola é a Sul (17,1%).
Obstáculos - O estudo
também aponta as principais barreiras que levam a evasão escolar e,
entre os principais fatores de risco para a permanência das crianças na
escola, está o fracasso escolar representado pela repetência que provoca
elevadas taxas de distorção idade-série, de acordo com a Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2009.
Os alunos com idade superior à
recomendada para a série (dois anos ou mais de atraso), que frequentam
os anos finais da Educação Fundamental, somam mais de 5 milhões,
representando 41,87% do total de alunos e alunas nesse segmento. Para
citar outras situações, o fracasso escolar é também consequência do
trabalho infantil e do atendimento inadequado ou inexistente às crianças
e aos adolescentes com necessidades especiais, barreiras que os impedem
de seu direito à Educação.
Porém, o maior desafio para a
democratização da educação básica é a dificuldade de acesso de
professores às escolas rurais. Nesse aspecto, as regiões mais afetadas
por esse problema são Norte e Nordeste. Segundo o Censo Escolar 2009,
cerca de 65% dos alunos matriculados nessas escolas não são atendidos
por sistemas de transporte escolar público. As taxas de distorção
idade-série nas zonas rurais dessas regiões chegam a ser duas vezes
maior que as das regiões Sul e Sudeste.
Perspectivas – O relatório Todas as crianças na escola em 2015 – Iniciativa global pelas crianças fora da escola
também apresenta uma análise das principais políticas públicas de
enfrentamento à evasão e ao abandono escolar e faz uma série de
recomendações. Uma das constatações apresentadas por meio do documento é
a importância da intersetorialidade dessas políticas públicas com o
objetivo de assegurar a universalização e a indivisibilidade dos
direitos da criança.
“Somente políticas intersetoriais
poderão garantir a inclusão e a permanência na escola e a aprendizagem
de crianças e adolescentes com deficiência, dos meninos e meninas
egressos ou em risco de trabalho infantil, ou das crianças e
adolescentes abrigadas e em medidas socioeducativas”, diz o documento.
“É preciso ainda eliminar da cultura escolar a naturalização da
repetência, da evasão, da não alfabetização na idade certa e da não
aprendizagem”.
Segundo as recomendações, um passo
importante para o alcance das metas de qualidade no atendimento da
população em idade escolar é a valorização do profissional de educação
que envolve remuneração adequada, plano de carreira e capacitação
constante. Porém, o relatório destaca ainda a necessidade de se garantir
a inclusão de conteúdos relacionados ao preconceito e a discriminação
por gênero, raça e etnia, religião, deficiências e orientação sexual,
temas que se não abordados podem levar a processos de exclusão escolar.
Esforço mundial – O relatório integra a Iniciativa Global Out of School Children
(Pelas Crianças Fora da Escola), do UNICEF e do Instituto de
Estatística da UNESCO (UIS). A ação analisa a exclusão e os riscos de
abandono escolar em 25 países. Na América Latina e Caribe, participam
Brasil, Colômbia e Bolívia. No Brasil, vem sendo desenvolvida em
parceria com a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, rede da
sociedade civil que atua pela efetivação do direito constitucional à
educação no país.
O documento está disponível na íntegra no site do UNICEF, clique aqui para acessar.
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