O Fórum Permanente de Igualdade Racial (FOPIR), que reúne organizações
da sociedade civil e organizações negras para o combate ao racismo e
para a promoção da igualdade racial no Brasil, vem a público manifestar
total repúdio ao programa Zorra Total, veiculado semanalmente pela TV
Globo e, em especial, ao episódio intitulado “Adelaide”. Dissimulado
como suposto humor, o programa exibe conteúdo explicitamente racista,
sexista, recheado de estereótipos e ofensivo à população negra, ferindo
gravemente os direitos humanos de milhões de brasileiros.
“Adelaide” é o estereótipo de uma mulher negra pobre, sem instrução
formal, que pede esmolas no metrô. Cada episódio traz uma narrativa
diferente, sempre com conteúdo racista e humilhante para negros e
negras. No programa que foi ao ar no dia 01/09/2012, “Adelaide” -
interpretada pelo ator Rodrigo Sant´anna - chama ao palco sua filha, que
é anunciada como “linda” e traz uma faixa atravessada sobre o peito
com os dizeres “urubu branco”. A menina é retratada com as mesmas
características da mãe: sem dentes, cabelos “despenteados”, erotizada,
dissimulada e usuária de uma forma de linguagem cujo objetivo é o de
desqualificar pessoas que não tiveram acesso ao ensino formal. O
coreógrafo Carlinhos de Jesus é convidado para o quadro na condição de
padrinho da menina e diz a esta que vai lhe presentear com um pente de
alisar o cabelo, evidenciando, mais uma vez, um conjunto de estereótipos
ofensivos sobre as características de pessoas negras em geral. Se os
conteúdos racistas veiculados por este quadro já haviam, desde o seu
surgimento, ultrapassado todos os limites do respeito à dignidade
humana, a utilização da imagem de uma personagem que representa uma
criança se choca, de forma contundente, com o dever de proteção à
infância e à adolescência.
É inadmissível que um país de maioria negra, conforme o último Censo divulgado pelo IBGE, mantenha um programa televisivo que, em nome de um pseudo-entretenimento, utiliza-se de um suposto humor para humilhar e desrespeitar a dignidade humana da sua própria população. Os veículos de comunicação têm de estar comprometidos com a produção e difusão de conteúdos não discriminatórios e não estereotipados sobre os negros e negras, conforme foi destacado nas propostas prioritárias da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom). Por isso, nós, do FOPIR, reforçamos a necessidade de os meios de comunicação dedicarem especial atenção a todo e qualquer conteúdo produzido e veiculado na mídia que possam reforçar a discriminação e o preconceito de quaisquer espécies.
Assinam a carta as organizações abaixo listadas:
1. Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras - AMNB
2. Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombos do estado do Rio de Janeiro – ACQUILERJ
3. Associação Nacional de Pesquisadores Negros/as - ABPN
4. Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas - CONAQ
5. Central Única de Favelas - CUFA
6. Instituto de Estudos Socioeconômicos - INESC
7. Redes de Desenvolvimento da Maré
8. Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades - CEERT
9. Comissão de Jornalistas Pela Igualdade Racial – COJIRA RJ
10. Fundação Ford
11. Fundação Carlos Chagas
12. Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros - IPEAFRO
13. Baobá – Fundo para Equidade Racial
14. Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais da UFRJ - LAESER
15. Laboratório de Pesquisa em Etnicidade, Cultura e Desenvolvimento - LACED
16. Observatório de Favelas
17. Grupo de Estudos Multidisciplinar da Ação Afirmativa/IESP-UERJ - GEMAA
18. Geledés Instituto das Mulheres Negras
19. ODARA – Instituto da Mulher Negra
20. INSPIR - Instituto Sindical Interamericano pela Igualdade Racial
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