Alunos da Universidade do Estado do Pará (Uepa) acusam a professora Daniela Cordovil, 34 anos, de ter cometido crime de racismo no início da noite desta sexta-feira (14), contra o vigilante Ruben Santos, responsável pelo portão central do Centro de Ciências Sociais e da Educação (CCSE) da universidade.
Em entrevista à reportagem do DOL, o
estudante Paulo de Paula, 34 anos, matriculado no curso de Pedagogia da
UEPA, afirmou que estava na frente do CCSE, quando ouviu a professora
Daniela agredindo verbalmente o vigilante.
“Ela (Daniela Cordovil) chamou o
trabalhador de macaco, burro e afirmou que ele era um palhaço vestido de
vigilante. Eu vi esta cena e não tive como me conter. Chamei-a de
racista e disse que ia chamar a polícia – como fiz. Ela chutou a minha
perna e só não me agrediu mais porque as pessoas seguraram-na”, conta o
estudante.
A professora Daniela Cordovil (foto) foi acusada por alunos da UEPA de racismo contra um vigilante da instituição. (Foto: Celso Rodrigues) |
“O segurança não deixou as pessoas
entrarem porque estava cumprindo ordens da direção do CCSE, que barrou a
entrada de qualquer pessoa a partir das 18 horas na universidade. Ele
(Ruben Santos) até falou que a professora poderia tentar que as pessoas
entrassem pelo portão da Reitoria, mas ela continuou xingando”, afirma
Paulo.
OUTRO LADO
Em entrevista ao jornal Diário do Pará,
já na Central de Flagrantes da seccional de São Brás, a professora
Daniela Cordovil falou que o motivo de toda a discussão teria sido a
greve dos professores da UEPA e se defendeu da acusação do crime de
racismo.
“Toda confusão aconteceu por conta
de uma greve que possui pleitos infundados e vem atrapalhando a
universidade desde a última quarta. Dois professores que são referências
na minha área de pesquisa vinham dar uma palestra de graça pro meu
grupo e seriam impedidos de entrar porque a coordenação do centro aderiu
à greve. Então eu me revoltei com o porteiro e o chamei de macaco, mas
não com conotação racista. Seria um contracenso pra mim, que sou
estudiosa das religiões afro, falar algo assim. O que eu disse é que ele
era um macaco no sentido de fazer tudo o que a direção queria, com uma
obediência cega”, alegou a pesquisadora em Antropologia, que declarou estar arrependida de ter se alterado com o porteiro, uma vez que ele estava só seguindo ordens.
NA DELEGACIA
Após prestar depoimento
e ter um Termo Circunstancial de Ocorrência (TCO) lavrado contra si, a
professora foi liberada pela polícia e responderá em liberdade pelo
crime de injúria.
O estudante Paulo de Paula, mais cinco
testemunhas e o representante do movimento União do Negro pela Igualdade
(UNEGRO), Vanderlei Pinheiro, querem que Daniela Cordovil responda pelo
crime de racismo, que é inafiançável.
“Achamos sim que houve crime de racismo e
ela deve ser punida exemplarmente, justamente por ser professora e ter
sido cometido dentro de uma universidade, espaço que deveria formar
cidadãos para combater este tipo de crime”, acredita o representante do
movimento negro.
A delegada Socorro Bezerra, responsável
pelo caso, afirmou à reportagem do DOL que o vigilante Ruben Santos
declarou uma estória um pouco diferente da contada pelo estudantes e
assumida pela professora.
“Ele (Ruben) afirmou que foi chamado de
burro e de palhaço. Isto se enquadra em crime de injúria comum, nem
injúria racial é. São vocês da imprensa e os estudantes que estão aqui
que estão dizendo que ele foi chamado de macaco. Se ele acrescentar isso
nós teremos que rever o processo”, explicou a delegada.
PROTESTO
Os estudantes que
presenciaram o ocorrido e o membro do movimento UNEGRO prometem
organizar um protesto a partir das 10 horas deste sábado (15), em frente
ao CCSE-UEPA, localizado na travessa Djalma Dutra, no bairro do
Telégrafo.
“Vamos fazer um protesto de repúdio a
este ato de racismo dentro da UEPA. Também estamos programando uma nova
manifestação para a quarta-feira (19), no prédio da Reitoria. Não
queremos que isso fique impune”, declarou, indignado, o estudante Paulo
de Paula.
O DOL tenta contato com a Universidade do Estado do Pará, para saber o posicionamento oficial da instituição sobre o ocorrido.
(Felipe Melo/DOL, com informações do repórter Eraldo Paulino)
Fonte: Diário do Pará
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