Filósofo,
professor e pesquisador, Renato Noguera propõe, em livro coeditado pela
FBN, mudanças no ensino da disciplina nas escolas
No CEERT
Desde que foi promulgada a Lei 10.639, que tornou obrigatória a
inclusão dos conteúdos de História e Culturas Afro-Brasileira e Africana
em todos os níveis de ensino no país, em 2003, muito se discute sobre a
aplicação dela. O livro O ensino de filosofia e a lei 10.639,
do professor Renato Noguera, produzido pela Pallas Editora em coedição
com a Fundação Biblioteca Nacional, defende mudança de paradigmas:
descolonizar o pensamento e desfazer a ideia de que a filosofia seja uma
aventura exclusiva da cultura ocidental. O livro foi um dos ganhadores
do Edital de Coedições para Autores Negros, da Biblioteca Nacional em
parceria com a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial,
do MinC.
O professor lembra que a produção africana existe desde a antiguidade
e que, antes da Grécia, os egípcios formularam importantes teses
filosóficas. “Além disso, nada mais empobrecedor na área de filosofia do
que as respostas fáceis e dogmas”, acrescenta. Por isso, o autor
sugere, no livro, revisitar a produção acadêmica de africanas e
africanos em todo o mundo, de forma a combater o racismo epistêmico,
observando o protagonismo e a autoridade de negras e negros em todas as
áreas.
Uma das questões centrais do texto é justamente a invisibilidade da
produção intelectual negra. “Esse roteiro é benéfico para a democracia e
ampliação da diversidade étnico-racial nos circuitos acadêmicos. Os
centros de produção e difusão de conhecimento acadêmico ainda são muito
eurocentrados. Algumas décadas atrás a história da Europa era
considerada a narrativa da trajetória da humanidade”, esclarece Noguera.
O público-alvo esperado inicialmente constitui-se, sobretudo, de
docentes de filosofia do ensino médio e de pessoas que trabalham com a
pesquisa sobre o ensino de filosofia. Apesar de a publicação ter sido
pensada principalmente para esses profissionais, Renato torce para que
ele conquiste o interesse do público em geral. “O livro também provoca
debates entre os que atuam na universidade e, eventualmente, entre o
público que se depara com declarações que contrariam o senso comum a
respeito da filosofia. Ideias como ‘os gregos não inventaram a
filosofia’ podem gerar debates mais acalorados”, diz Renato.
Leia Também: Colocando conceitos em jogo
O autor espera que a publicação ajude a desfazer ideias preconcebidas
sobre a relação entre a filosofia e a cultura ocidental. “O meu
convite, tanto às pessoas que têm criticado o livro como às que o têm
elogiado, é que busquem as fontes que indico e que revejam a formação
oficial na área. O que eu digo no livro é que não devemos ficar
restritos a uma historiografia apenas”.
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