De
08 a 10 de janeiro de 2018, na Escola Estadual de Ensino Médio Prof. Ademar
Nunes de Vasconcelos, em Salvaterra/PA, aconteceu a primeira formação interna
sobre Educação Escolar Quilombola, promovida pela Coordenadoria de Educação
para a Promoção da Igualdade Racial da Secretaria de Estado de Educação do Pará
(COPIR/SEDUC). Foram dias de estudos, leituras, compartilhamento de ideias e
levantamento de propostas para a implementação das Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Escolar Quilombola na Educação Básica. Pois a escola
Vasconcelos, como ela é carinhosamente chamada pela comunidade local, atende
estudantes de famílias quilombolas oriundos das 16 comunidades remanescentes de
quilombos da cidade.
Na
ocasião, os/as participantes da formação também celebraram o aniversário de 15
anos de promulgação da Lei 10.639, assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da
Silva em 09 de janeiro de 2003, instituindo a obrigatoriedade do ensino de
história e cultura africana e afro-brasileira na Educação Básica.
A
escola Vasconcelos formalizou pedido de reconhecimento da SEDUC ao seu novo
Projeto Pedagógico que pretende atender a comunidade escolar com maior
qualidade no quesito que diz respeito à diversidade étnico-racial,
principalmente na valorização das culturas e tradições quilombolas, observando
o que determina a Resolução 08/2012 do Conselho Nacional de Educação, que
instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar
Quilombola na Educação Básica. Desta forma, há um compromisso da escola em
contribuir para o fortalecimento identitário de seus alunos e de suas alunas
quilombolas, potencializando seu senso critico e sua inserção social.
Durante
a formação, foi formulada a proposta de trabalho a partir do seguinte tema gerador:
Territorialidade e Empoderamento Quilombola. Visto que as comunidades
quilombolas têm sofrido severos ataques aos seus espaços de produção agrícola e
cultural, fator que incide prejudicialmente no rendimento escolar de alunos/as
das famílias atingidas, elegeu-se a territorialidade como ponto de partida para
as abordagens pedagógicas de projetos e conteúdos curriculares.
Currículo e quilombo
A partir da Territorialidade e do Empoderamento Quilombola, já se começou a construir planos de aula de todas as disciplinas. Língua Portuguesa prevê trabalhar com variações lingüísticas, coletando vocábulos considerados quilombolas. Literatura visa catalogar histórias contadas nas diferentes comunidades. Artes vai comparar os traços da arte clássica com os traçados e tessituras das produções de cestas, panelas de barro, alguidares, abanos, tipitis, vassouras, etc. Educação Física, que já desenvolve trabalho nas comunidades, vai reforçar a luta marajoara, a capoeira, os brinquedos cantados e a corporeidade.
A Matemática
Financeira irá aplicar as ferramentas estatísticas em pesquisas sobre a
produção da agricultura familiar e do comércio em áreas quilombolas. Biologia, por sua vez, propõe-se a
identificar as características dos biomas brasileiros, dando ênfase aos biomas
das comunidades quilombolas de Salvaterra.Física estudará a importância da
implantação da energia elétrica na comunidade, destacando os pontos positivos e
negativos dessa implantação. Química se
lançará no estudo da composição, propriedades de objetos produzidos nas comunidades
quilombolas, na manipulação de propriedades de ervas medicinais, nas técnicas
de pinturas e produção de corantes, pigmentos, no estudo da melanina e na
datação de objetos arqueológicos mais antigos.
Filosofia
abordará os valores civilizatórios africanos herdados. História abordará o resgate das heranças afro-brasileiras. Geografia
analisará os conflitos agrários, especificamente no caso da Fazenda Macário,
que tem provocado problemas diversos às famílias do entorno, e a dinâmica
populacional local. Já a Sociologia
enfocará os conceitos de território e territorialidade quilombola.
Expectativas
Expectativas
“Esperamos este ano de 2018 concluir os trâmites para a construção da
proposta e autorização do Conselho para implantação em 2019 com o objetivo de
atender nossos alunos que são oriundos de comunidade quilombolas em uma
perspectiva social contextualizada, fazendo valer a Lei 10.639, mas, também,
dinamizando o currículo no processo de vivência que o educando se insere para
compreensão do macro”, analisou o professor Jociel Góes, diretor da escola
Vasconcelos.
Profa. Esp. Eliana Alcântara |
Para
a professora de filosofia Eliana Alcântara, que é especialista em Educação para
as Relações Étnico-raciais e quilombola da Comunidade de Bacabal, “é muito importante o movimento que está
acontecendo na escola Vasconcelos, que tem uma considerável clientela vinda dos
quilombos, e isso vai contribuir na formação humana dos jovens quilombolas e
não-quilombolas, tornando-se agentes transformadores e críticos”.
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